O quarto painel do Encontro Abrint 2024 contou com a participação de Vinicius Caram, Superintendente de Outorga e Recursos à Prestação da Anatel, Dr. Raul Katz, Fundador da Telecom Advisory Service LLC, Martha Suarez, Presidente da Dynamic Spectrum Alliance, Giuseppe Marrara, Head de Relações Públicas América Latina da Cisco, Esteban Lescano, Diretor da Comissão Jurídica e de Políticas Públicas da CABASE, Cristiane Sanches, Conselheira da Abrint, e a moderação ficou com Samuel Possebon, Diretor Geral da Teletime.
O debate iniciou com Raul Katz apresentando um estudo – a pedido da Abrint – que defende manter o uso de 1200 MHz da faixa de 6 GHz para serviços não licenciados, cujo mais comum é o Wi-Fi.
Katz levou em consideração o tamanho do mercado de banda larga fixa e banda larga móvel do Brasil, a quantidade de empresas que atuam nestes segmentos e o modelo de rentabilização atrelados às faixas de frequências, a fim de estimar a possível geração de riqueza.
Ele citou três cenários: a manutenção da regra atual (tudo para o Wi-Fi); a proposta da GSMA (700 MHz da faixa de 6 GHz para o móvel, e os 500 MHz restantes para o Wi-Fi); e o modelo híbrido, que chamou de “frankenstein”, por prever 1200 MHz liberados para uso de Wi-Fi indoor, 700 MHz para uso celular outdoor, e 500 MHz para uso Wi-Fi outdoor.
“Existe uma relação direta entre um benefício econômico e um ganho social, o que faz com que o gap digital diminua”, disse. Na Argentina, por exemplo, 80% do tráfego de dados é por Wi-Fi, e nos EUA isso já chega a 90%”.
“A diferença entre a entrega total e partia dos 6 GHz para o Wi-Fi é maior do que a esperada para a alocação parcial do 5G”, afirmou. E ressaltou que a conta considera o fato de o Wi-Fi 6E já estar em produção e a monetização poder começar em breve, enquanto os celulares com 6 GHz não chegariam ao mercado antes de 2027.
Vinicius Caram destacou que a decisão da Anatel que destinou a integralidade da faixa de 6 GHz para uso não licenciado previa uma ocupação mais acelerada do espectro pelo Wi-Fi. “Tinha-se expectativa que o Wi-Fi 6E estaria disponível nos últimos 3 anos. Isso não aconteceu. Neste meio tempo, surgiu a discussão global na questão da escala. Para evoluir para o 6G da telefonia móvel, são precisos canais maiores”, resumiu.
Ele reconhece a importância do Wi-Fi para offload de dados das redes móveis e usos industriais, e por isso defendeu a proposta de convivência entre Wi-Fi indoor e fatia móvel no outdoor. “Acredito que é possível usar o espectro de forma dinâmica e fazer a divisão apenas nos mercados mais densos. Não há necessidade de usar todo o espectro em todas as áreas, é possível compartilhar”, defendeu.
Ele também observou que não se tem conhecimento – até agora – de uso maior que um canal de 320 MHz para o Wi-Fi em residências. E que as consultas da Anatel no momento não alteram o fato de que a faixa está livre para o uso não licenciado.
Giuseppe Marrara afirmou que o ideal seria manter a regra atual, e que a decisão brasileira de rever a destinação incomodou. “A partir da decisão da Anatel em 2021, investimos em uma fábrica que já produziu 70 mil access points WiFi 6E operando em 6 GHz. A maioria dos clientes já compra aparelhos triband (que emitem 6 GHz). Foi uma surpresa constrangedora a retomada dessa discussão”, reclamou.
Segundo Giuseppe, o Wi-Fi tem disponível para uso apenas 0,8 GHz de espectro, mas suporta cerca de 70% do tráfego de internet, além de funcionar para o offload das redes móveis. E avisou que além dos 6 GHz, a indústria do Wi-Fi vai pedir mais no futuro. “Os 1200 MHz foram importantíssimos, mas não são o suficiente, precisaremos de mais”, falou.
Cristiane Sanches, da Abrint, apontou preocupação com o modelo “frankenstein”, e afirmou que há um gargalo do Wi-Fi atualmente, uma vez que o 2,4 GHz e 5 GHz não licenciado não dão conta, devido à entrega de velocidade de taxa de transmissão muito maior do que a capacidade atual e pelo Wi-Fi servir como offload da rede celular.
Também disse que há futuras frequências a serem disponibilizadas para o uso de serviço móvel, sendo que 10 GHz já foi feito um trabalho pela Anatel. “Tem aspectos do uso outdoor que interferem no uso indoor. Então o uso híbrido passa por fazer a adequação. Essa convivência é muito difícil”, avaliou.