Qual o papel do ecossistema dos provedores regionais em resolver o gap de conectividade na agricultura rural? A questão, para Renato Bueno, diretor financeiro na ConectarAGRO e diretor de novos negócios para a América Latina na Nokia, passa pela necessidade de pensar em modelos de negócios que favoreçam a viabilidade econômica por meio da conectividade, o que pode transformar a realidade do campo, onde a cobertura das redes 4G e 5G é de apenas 33%. “As redes privativas são o grande habilitador da indústria e os provedores regionais são peça fundamental para o desenvolvimento. Os mercados de Provedores de Serviços de Internet (ISPs) desempenham um papel importante na expansão da conectividade rural, fundamental para a implementação da agricultura digital. Eles precisam se envolver e assumir o protagonismo”, afirmou.
Bueno reforçou a necessidade de um ecossistema que envolva modelos de negócios e serviços para atender os produtores rurais com o intuito de simplificar e incentivar a conectividade do agro com soluções de conectividade via fibra óptica, redes sem fio e satélite, monitoramento climático e gestão remota de operações agrícolas. “Vamos promover o 4G usando 700 mhz porque é uma tecnologia simples e utilizada por muitas pessoas ao redor do mundo, por exemplo. É na tomada de decisões que acontecem as grandes oportunidades”, observou.
Durante a apresentação, o executivo reforçou o papel e a proposta do ConectarAGRO, que desde 2017 reúne empresas de telecomunicações e do setor agrícola com a proposta de fomentar a expansão do acesso à internet nas áreas rurais do Brasil para conectar pessoas, maquinas e instrumentos. “Propomos a adoção de uma tecnologia ‘interoperável’ acessível e simples”, reforçou.
Demanda por alimentos
Com o crescimento da demanda por alimentos – até 2050 espera-se 10 bilhões de pessoas no mundo -, e o papel protagonista do Brasil em atender a demanda só será possível crescer se houver evolução em termos de conectividade para a adoção da agricultura de precisão. “É a quarta revolução industrial, que envolve uma série de movimentos tecnológicos que irão mudar a forma de consumo de alimentos”, afirmou Bueno. Estudos indicam que a instalação de novas torres de transmissão pode ampliar significativamente a cobertura de internet no campo, aumentando o Valor Bruto da Produção (VPB) agrícola em até 9,6%.
Renato Bueno apresentou o case da Fazenda Conectada, iniciativa da Case IH em parceria com a TIM, e que está localizada em Água Boa (MT). A fazenda funciona como um laboratório de 3 mil hectares para testar e demonstrar tecnologias de agricultura digital. Com conectividade 4G, o projeto integra máquinas agrícolas inteligentes, sensores IOT e sistemas de gestão com o Case IH FieldOps, o que permite o monitoramento em tempo real de operações e desempenho de equipamentos.
A fazenda alcançou produtividade 13,4% superior à média nacional, com redução de 25% no consumo de combustível e aumento de 4,2% no tempo de trabalho das máquinas. Bueno afirmou que o uso de drones para o mapeamento em 3D do terreno favoreceu o salto de produtividade, um detalhe importante, e que pode ser aplicado na agricultura de precisão. Outras tecnologias foram o uso de sensores de solo, máquinas conectadas, gestão em tempo real, estação meteorológica associada a serviços de meteorologia que garantem ganho de precisão. “Dessa forma foi possível promover a conectividade e entender todo o processo da fazenda e onde estão as oportunidades”, avaliou.
O custo mais alto no modelo tradicional é um dos pontos pelo qual o 4G não consegue chegar a todos os rincões do país, segundo Bueno. “São muitos novos modelos de negócios e formatos de atendimento possíveis”.