Diante de uma plateia atenta e interessada, o filósofo, educador e escritor brasileiro Mario Sérgio Cortella apresentou a palestra “Cenários Turbulentos, Mudanças Velozes”, no primeiro dia do ABRINT Global Congress 2025. Por meio de histórias e exemplos de fatos vivenciados em sua própria vida pessoal e acadêmica, Cortella mostrou como o pensamento crítico e a dúvida são instrumentos para se alcançar o conhecimento diante de um mundo cada vez mais digital e com desafios e transformações aceleradas. Ele ponderou sobre o uso da tecnologia e sobre as necessidades de mudança em negócios que sejam capazes de obter êxito, ampliar conexões e ao mesmo tempo manter a higiene moral.
Em um mundo que apresenta eventos turbulentos, o maior perigo está em acreditar que existem respostas prontas para todos os cenários, segundo Cortella. “A dúvida tem que anteceder para preparar melhor a certeza”, refletiu. Para ele, as dificuldades do dia a dia exigem uma atitude baseada na reinvenção, deixando claro que o passado é referência, e não direção. Para entender o funcionamento de um mundo cada vez mais digital, ele diz ser importante buscar novas fontes de conhecimento e atualização. E a inovação só pode acontecer diante de um aprendizado contínuo, que considere adaptação, resiliência e mudança como oportunidades.
“Embora estejamos no mundo tecnológico, faz quase 32 minutos que estou fazendo uma aula expositiva, sem power point, sem data show. Para essa reflexão eu não preciso. Isso significa que não preciso do digital? Não. Basta lembrar do período pandêmico; se não fosse a tecnologia, o isolamento seria absolutamente cruel”, lembrou.
Um dos pontos em destaque durante a palestra foi a reflexão sobre o medo. Ao fazer um paralelo com situações cotidianas, o filósofo citou inúmeros pensadores, escritores e poetas, como Paulo Leminski e Guimarães Rosa. “O genial é que em Grande Sertão, Veredas, Rosa aponta a saída, as veredas. A obra apresenta a esperança ativa, que é buscar, ir atrás, com coragem, persistência e resistência para enfrentar a vida. Como ele escreve, o que a vida quer da gente é coragem”, observou. “Portanto, coragem não é ausência de medo, mas sim enfrentar o medo”, completou. “Afinal quem não tem medo dos rumos da economia, da concorrência comercial, da organização planetária?”, completou.
“Os cenários são turbulentos e as mudanças velozes, mas o mundo está de olho neste momento em Roma, em uma cerimônia antiga, histórica, que é o conclave. A morte do Papa Francisco nos faz sentir falta de uma pessoa que imaginávamos estar fazendo algo inovador. Tanto é assim que o desejo é que levem adiante seus ensinamentos. Mas há outras pessoas que não acreditam nisso e temos que aprender a ouvir esse outro lado. É a divergência que cria a possibilidade de inovação. Gente que não tem dúvida não cresce”, avaliou.
Falando ainda do mundo romano, Cortella lembrou de uma frase do general Pompeu, o Grande, líder militar e político durante a queda da República Romana. Ele escreveu uma frase, em latim – Navigare necesse, vivere non est necesse -, e que inspirou Fernando Pessoa e Caetano Veloso: Navegar é preciso, viver não é preciso. “A palavra usada em latim dá a ideia de habilidade, conhecimento, competência. Ou seja, você não pode controlar a direção dos ventos, mas você pode reorientar as velas e para isso é preciso ter clareza para onde ir”, refletiu.
A mesma reflexão, segundo Cortella, pode ser observada em Alice no País das Maravilhas. Alice cai em um mundo e não sabe onde está, fica perdida e logo depois encontra um gato no alto de uma árvore. Ela pergunta ao gato se ele pode ajudá-la e para onde vai aquela estrada. O gato então pergunta para onde ela quer ir. Alice diz não saber, ao que o gato responde que para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.