Uma comprovação que nem só de prosa vive o serviço dos provedores, mas também de números e dados, e sobretudo de qualidade. Esse foi o mote da palestra “Balanço das redes PPPs: qualidade em forma de poesia” com moderação de Aristóteles Dantas, Diretor Financeiro da ABRINT, e um time de especialistas, que buscou uma leitura mais diversa e concreta da discussão do tema da qualidade das redes brasileiras.
Na prática, nossa infraestrutura como um todo e a qualidade dos serviços das PPPs (Prestadores de Pequeno Porte) foi ressaltada. “O Relatório Setorial das PPPs mostrou o papel relevante e o número crescente desses provedores, somos o País com maior número de companhias com esse perfil nas Américas e 55% delas é de PMEs. Em virtude dessa participação, desde 2021, fazemos esse relatório. Hoje, as PPPs representam algo como 46% do SCM e no Nordeste chega a mais de 70% ou 80% da participação. Com relação ao investimento algo como 60% do total das novas redes no Brasil é feito pelas PPPs, porque elas precisam fazer essas inversões maiores que as incumbentes, que pegaram redes prontas”, aponta Humberto Calza, Especialista em Regulação da Anatel.
Companhia que possui 20 milhões de usuários no Brasil e está presente em muitos outros países globalmente, a Ookla traz outros números interessantes, especialmente no que diz respeito à oferta de serviços de qualidade. “O Brasil tem uma excelente posição, estamos em 27o no ranking mundial, e em nossa frente temos países-cidades como Cingapura e os Estados Unidos. Tivemos uma pressão positiva das PPPs nas grandes operadoras para melhoria de acesso, com muita qualidade de fibra, que é superior aos Estados Unidos e Canadá, por exemplo”, compara Lourenço Lanfranchi, Senior Sales Director para Latam na Ookla.
Ele revela ainda que a diferença de qualidade entre os nossos estados não chega a 20%, o que é muito menor e melhor que outros países das Américas, por exemplo. “Assim como as PPPs brasileiras têm melhor qualidade em comparação com o mesmo perfil de provedores dos demais países latino-americanos”.
Instigado a participar da conversa, Eduardo Grizendi, Diretor de Engenharia e Operações da RNP, falou que considera a instituição que representa uma: “PPP que cresceu, começando pequena e que hoje opera em 1,8 mil campi nas universidades de todo o Brasil”.
Ao definir o trabalho atual da RNP, o executivo apontou que “o nosso papel e a necessidade constante de coleta de dados, que precisam ser repassados ao MEC, fez da instituição um ente importante na gestão da qualidade de infraestrutura da Internet no País. Afinal, a nossa rede acadêmica está interligada a rede comercial”, completa.
Além, é claro, de ser protagonista em diversos projetos gestados e fomentados pelo Governo Federal. “Muitos Ministérios nos consultam para o desenho de iniciativas, como aconteceu na época da COVID com a aceleração das conexões nas escolas e serviços de saúde para desenvolvimento de uma política pública adequada ao momento”, relembra.
Outro desdobramento, ele explica, é que a RNP atua desde 2010 ou 2011 em conjunto com a ABRINT e seus associados. “Foi um grande ganho trabalharmos em conjunto. Hoje, 2/3 dos campi tem provedores trabalhando conosco e o outro 1/3 que possui infraestrutura própria atua em parceria com os provedores. Isso chamou atenção do Estado, e a RNP recebeu a incumbência de cuidar do Programa Conecta do Governo -que reúne iniciativas que visam democratizar o acesso à Internet e promover a inclusão digital em áreas remotas ou com menor infraestrutura”, empolga-se. Neste sentido, o uso de ferramentas de qualidade é algo de grande importância para acompanhar o desenvolvimento e melhoria das redes.
O protagonismo das PPPs na universalização e na qualidade de serviços foi enfatizada pelos executivos. “A ANATEL enxerga o tráfego de dados nas PPPs e estima que 46% é oriundo delas, com 55% dos acessos. Analisamos o consumo por usuário, e ele é igual hoje entre provedores e incumbents. Tomando o preço, cujo indicador usado é o ARPU – a geração de receitas por usuário fora impostos -, temos R$ 92 nas PPPs e R$ 103 nas incumbents. Isso ocorre porque muitas PPPs estão em lugares com menor poder aquisitivo, e menor valor de entrada no serviço. Isso traz mais concorrência para o mercado e com qualidade no mesmo nível”, assegura Humberto Calza, da ANATEL.
Uma das ferramentas utilizadas é a do NiC.br, desenvolvida em 2023, e que deriva de regulamentações, tanto as de provedores como operadoras. “A ferramenta se presta a todos os usuários para que o consumidor verifique as métricas de qualidade e velocidade. Se a velocidade está abaixo do contratado, ele pode rescindir sem pagar qualquer multa”, enumera Holger Wiehen, Supervisor de Projetos de Medição do NIC.br
Ele aponta que a entidade tem contratos tanto com provedores como operadoras que recebem os chamados por problemas que muitas vezes estão no ambiente local do consumidor. “A ferramenta tem esse outro aspecto positivo ao trabalhar a educação técnica local para saber o que pode afetar a qualidade na casa dos clientes, uma medição que extrapola a avaliação da banda larga contratada”, conclui.
Outro provedor de ferramentas importantes na detecção da qualidade das redes, a Ookla, que possui o Speed Test, também consegue investigar serviços de sites e serviços de streaming. “Vemos a velocidade de upload e download, e de serviços, estamos em 5 mil servidores nos ISPs e em provedores de conteúdo. Medimos a pesquisa de satisfação e temos o Down Detector que avalia a queda de serviços. Sabemos qual o wi-fi, a degradação de sinal e outros parâmetros”, explica Lanfranchi.
Um exemplo: a empresa sabe que a maioria dos usuários usa as redes internas de 2.4 giga como serviço, independente da contratação adquirida. “Analisamos interferências e suas diversas fontes por meio de nossas ferramentas”, completa.
A qualidade das nossas redes, em especial aquelas na quais a RNP tem um papel de protagonismo, gera diversos projetos que interligam o Estado com a iniciativa privada. “Compartilhamos a infraestrutura da RNP e temos como um de nossos motes a integração da Amazônia, como o desenho das infovias fluviais, que sensibilizou as forças armadas e depois as entidades locais”, exemplifica Grizendi.
As infovias têm suas infraestruturas compartilhadas por meio de leilões, em um modelo no qual a RNP atua como um operador neutro com o setor público tendo acesso gratuito enquanto o privado paga pelo uso e manutenção da rede. “É um consórcio aberto, que já opera neste modelo nas redes 00 e 01, e agora fizemos o leilão da 03 na semana passada, que passa a contar com 12 provedores e três operadoras. Entre os provedores, em sua maioria, temos empresas locais e regionais”, conclui o executivo da RNP, que revela que as demais seis infovias implementadas serão ofertadas ao mercado.