Visionário ou apenas realista? A palestra “Cenários 2025-2050: um olhar para o setor das telecomunicações”, do Professor Paulo Vicente Alves, Doutor em Administração e Especialista em Estratégia e Gestão Pública na Fundação Dom Cabral, trouxe um apanhado de teorias utilizadas por ele para explicar os ciclos da economia e os fatores que empurram o mundo, e o Brasil, para estes cenários, com a visão chegando ao mercado de telecom.
Primeiro ele mostrou os modelos que utiliza como base para as suas projeções que ele chama de dimensões ou arcabouço lógico do PESTAL (Política, Economia, Social, Tecnologia, Ambiental e Legal). Algo que usa como referência temporal os ciclos desenvolvidos por Kondratieff, pensador russo contemporâneo de Stalin, que previu o eterno renascimento do capitalismo por meio de saltos tecnológicos.
De acordo com essa combinação, vivemos fases de crises e de reação a elas por meio de investimento em tecnologia. “Montei uma linha do tempo com uma visão ampla do cenario global e suas implicações ao olhar as dimensões PESTAL. Meu modelo tem ainda como base duas formas de contar histórias: os ciclos econômicos e ciclos hegemônicos que vivemos na história da humanidade”, ensinou.
E ele continua: “Crio um cenário de futuro, uma extrapolação que opera em um cenário de causa e efeito. Imagino, por exemplo, uma sexta revolução tecnológica, e tenho amplas evidências que trazem hipóteses, mas como estamos falando do futuro não se pode dizer que irá acontecer em sua totalidade”.
Sua primeira extrapolação foi em ciclos dentro do século 21. “Estamos vivendo o quinto ciclo de Kondratieff dos anos 2000, e em momentos desesperados temos movimentos desesperados. Não por acaso, vemos investimentos maciços em tecnologia, e esse ciclo terminará em 2030, e um novo ciclo se iniciará logo depois com o seu término em 2042”, analisou.
De acordo com o professor, robótica e IA devem conduzir o novo ciclo, e a energia e a mineração especial devem surgir, bem como o que ele chamou de “melhoria humana”, elevando a expectativa da população mundial para 120 anos. “Neste cenário, veremos indústrias e empregos sendo destruídos e outras indústrias aumentando sua necessidade de mão de obra”, projetou.
Ele exemplificou: “Vimos a telefonia fixa morrendo e o móvel e digital surgindo e se consolidando, com mais e mais empregos”. Outra projeção para o ciclo futuro é a transição econômica dominante dos Estados Unidos para outra potência econômica – seria a China?
Como o professor enfatizou, ao final de cada ciclo – alavancado por uma crise no capitalismo –, acontece uma nova revolução tecnológica, bem ocorre sempre uma guerra entre as potências europeias centrais e a Rússia. Algo que aconteceu na época Napoleônica e nas grandes guerras mundiais.
“No meu último estudo, anos atrás, elenquei três possibilidades de guerra para este momento e elas estão acontecendo agora – uma na Europa (Rússia e Ucrânia), outra no Oriente Médio (Israel e Palestina) e a terceira no sudeste asiático (conflito China e Taiwan)”, pontuou – no caso deste último, ainda em escaramuças de provocação.
Sua comparação é com um outro grande ciclo – 50 anos – com o cenário do final dos anos 1960 e início dos 1970. “Vivemos um momento atual muito similar. Tivemos o programa espacial Apollo e agora temos o programa Artemis, que é irmã do Apollo. Uma Corrida Espacial que vai alavancar novas tecnologias”, explica.
Muitas possibilidades e previsões aconteceram, dentro de suas projeções anos atrás, enfatizou, como a atual pressão da inflação nos Estados Unidos, uma “estagflação” (estagnação da economia com inflação). “Está acontecendo igual ao que vimos nos anos 1970, dentro do ciclo de 50 anos de Kondratieff”, argumentou.
Ele apontou que a energia cara é um problema que vai trazer novas/velhas soluções com a Europa investindo maciçamente em energia nuclear e no retorno do carvão, para substituir a energia vinda da russa. “Isso cria aumento de impostos e, junto com a diminuição da privacidade, gera crises institucionais e políticas”, alertou.
Resumindo: vivemos uma crise em 22/23 (vimos Ucrânia e Gaza) e veremos uma nova crise em 29/30. “A partir de 2027 teremos uma melhora, fruto de rupturas tecnológicas, com o Artemis 3 pousando na Lua em 2027, até que surja uma nova crise no horizonte em 2030. Em 2035, veremos a expansão do arsenal nuclear chinês, outra ideia de crise futura”, enumerou.
Para o Brasil, Alves aponta que uma guerra entre China e Taiwan (econômica ou não) pode até ser benéfica para o nosso País. “É algo estranho pensar assim, mas, sim, é possível ser bom para nós porque o Brasil será forçado a diminuir a dependência econômica da China”, projetou.
Entre suas recomendações para atravessar da melhor forma os ciclos e se aproveitar deles, está o binômio resiliência e exponencialidade – o primeiro, para resolver as crises futuras, e o segundo, como forma de se utilizar das tecnologias que crescem muito rápido. “No Brasil poderemos ver problemas fiscais e de inflação entre este ano e 2026”, admitiu.
Movimentos dos Estados Unidos como a reindustrialização do país a partir dos chips, entre outros fatores globais, vão levar a novos cenários tecnológicos. Um deles, que afeta o segmento de telecom, é o aumento de players de Internet espacial com as suas constelações de satélites. Outro, para ele, é um aumento rápido na adoção do 6G, com maior demanda criada pelos jogos online
O conjunto de fatores leva ainda a reconsideração das cadeias econômicas globais. Sempre olhando três pontos principais na oferta dos países: 1-baixo custo de mão obra, 2-ambiente de baixo risco (segurança e custo) e 3-mão de obra qualificada. O Brasil, de acordo com o especialista, estará bem preparado para o investimento em cadeias de indústrias que precisam do elemento 2 que vimos acima.