“Um mar aberto!” A expressão, utilizada no painel “Universo Móvel: Redes Privativas e Inovação de Portfólio”, pode ser traduzida como um horizonte amplo de oportunidades de negócios para os ISPs a partir da oferta de redes privativas e aumento do portfólio de serviços.
Visão compartilhada pelos participantes da conversa: José Felipe Ruppenthal, Diretor da Telco Advisors; Cristiane Sanchez, Diretora Jurídica e Vice-Líder do Conselho da ABRINT; Maximiliano Martinhão, Diretor de Relações Governamentais da Qualcomm; e Everson Mai, Fundador e CEO do Grupo Mais Internet e Diretor Financeiro da Abrint, que teve a mediação do jornalista Fernando Paiva, da Mobile Time.
“Enxergamos que existe um cenário bem amplo de oportunidades. Comparo o cenário atual com aquele lá atrás, quando tínhamos apenas a rede fixa, e como resolvemos? Por meio de mais concorrência. Temos a impressão que as MVNOs vão resolver tudo, mas será que é isso?”, apontou José Felipe Ruppenthal, Diretor da Telco Advisors.
O certo é que a regulação do PGMC permite acesso a recursos de radiofrequência e os provedores podem estão livres para criar redes privativas. “Temos na Qualcomm o desenvolvimento de tecnologias para redes privativas voltadas para os provedores, com a possibilidade de selecionar e integrar os vendors com os operadores que desejam. Mas o mais importante é pensar no uso e objetivo dessas redes, penso em IoT, e temos diferentes casos de acordo com a vertical da economia nas mais diferentes regiões”, explicou Maximiliano Martinhão, Diretor de Relações Governamentais da Qualcomm.
Um estudo apresentado previamente por Paiva aos participantes mostrou esse início de “boom” dos projetos de redes privativas, que dobrou em pouco tempo, chegando a 400 projetos implementados. Uso calcado em muitos casos em projetos de IoT e na queda do preço dos equipamentos.
“Começamos a trabalhar como um MVNO recentemente e vimos como nos transformarmos em uma utility olhando para muitas novas oportunidades. O cliente B2B está confortável com o serviço de banda larga fixa, porém, por quê não usamos uma infraestrutura FWA (Fixed Wireless Access) para eles? É uma grande oportunidade. Precisamos (os ISPs) sair da inércia, mudar o portfólio e entender o novo cenário de negócios”, provocou Everson Mai, Fundador e CEO do Grupo Mais Internet e diretor financeiro da Abrint.
A razão para a aceleração dos negócios a partir do aumento do portfólio dos ISPs acontece, por exemplo, pela facilidade de licenciamento para obter uma frequência de rádio. “Estamos com um projeto de uma rede de postos de combustíveis muito interessante, vamos implementar e operar o projeto da rede privativa deles”, revela Mai.
Mas esse cenário pode ser ainda mais ampliado. “Precisamos acelerar a mudança de acesso ao espectro, com incentivos para que os preços caiam. O espectro de prateleira não deve ser a norma, porque a operadora abre o uso de modo provisório. O mercado de espectro, que envolve negociação, pode ser melhor trabalhado a partir do PGMC, com ofertas no atacado e abrindo para outros operadores”, pontuou Cristiane Sanchez, diretora jurídica e vice-líder do Conselho da ABRINT.
Ela seguiu sua argumentação afirmando que como o Brasil é muito diferente no offload de tráfego, as redes privativas e a regulamentação podem trazer aberturas interessantes. “E não apenas com o novo PGMC como com o Regulamento de Uso de Espectro (RUE), o que vai consolidar um novo cenário, especialmente com a interconexão da rede privada com redes públicas, ou seja, com redes híbridas”, completa.
A partir das mudanças e novos focos dos ISPs, surge o tal “mar” de possibilidades. “Vejo três pontos para explorar, o primeiro é que as redes privativas resolvem o problema das redes móveis. O segundo são os casos de uso e as redes privativas podem acelerar isso, resolvem problemas no agro e em segurança que tem o grande desafio de que a fibra em câmeras é complexo, e, por fim, podemos levar IoT e digital twins aos clientes. Em resumo, os ISPs podem ter um papel fundamental ao levar uma rede privativa e gerar valor. Quem está próximo do cliente é o ISP, conhecendo o cliente e seus negócios”, explica Ruppenthal.
Nesse processo, Mai coloca alguns desafios que precisam ser superados. “Não podemos depender de uma rede apenas. O cliente precisa de 100% de serviço e o nosso SLA precisa ser o mais próximo possível. A distribuição da infraestrutura de rede é essencial, e precisamos ter uma inteligência na nossa reinvenção do negócio para a melhor entrega de redes privativas. Nossas boas práticas envolvem distribuição de conteúdo e de backbone, entre outras perspectivas”, conclui.
O LAN sharing é uma forma adequada de compartilhamento interessante, entretanto é preciso modernizar esse formato. “O single grid trata da substituição de redes, uma sofre paralisação e a outra continua. O mercado precisa saber como são feitos estes compartilhamentos entre as operadoras”, resume Cristiane.