“Estamos vendo uma mudança de paradigma com a IA”. Foi com essa breve reflexão que Arthur Igreja, conselheiro da Fortics, cofundador da plataforma AAA Inovação, e autor do best-seller sobre inovação “Conveniência é o nome do Negócio”, abriu a palestra Inovação e Tendências Tecnológicas, no último dia do ABRINT Global Congress (AGC) 2025. “Precisamos entender que a IA é como a Internet, mas mais poderosa, porque é o que chamamos de General-Purpose Technology, que tem um profundo impacto na sociedade e na economia. Estamos vendo uma camada nascendo e que vai demandar muito mais infraestrutura”, afirmou.
Igreja trouxe alguns exemplos, como o da Ferrari, uma marca com mais de 75 anos e que na década de 50 já dominava a Fórmula 1, com Juan Manuel Fangio. Naquela época, os engenheiros da scuderia italiana sugeriram ao comendador Ferrari um protótipo de carro com o motor posicionado na parte de trás, mas o pedido não foi aceito. Algum tempo depois, a Cooper, uma empresa muito mais atenta à inovação, fez um teste com o motor atrás.
O carro passa a se tornar mais confiável e em 1958 a Cooper ganha três corridas na temporada. Em 1960, a Cooper foi campeã. “Esse é um exemplo de mudança de paradigma, exatamente o que estamos vivendo hoje. Estamos no início da curva da IA e há pessoas resistentes, o que deverá dificultar escalar os negócios”, afirmou Igreja. “A metáfora de uma pessoa que acredita que a IA não vai pra frente é a de alguém amarrando uma locomotiva com um barbante”, ressaltou.
Há muito espaço para inovar a experiência do consumidor e o maior desafio é entregar o melhor para o cliente. “Se você não está entregando o melhor com a IA, não há como melhorar. Um exemplo é o Tik Tok Shop, que acaba de fazer sua estreia no Brasil, com a expectativa de conquistar 9% do e-commerce. O Brasil foi o último país a fazer isso. É preciso criar uma jornada de atendimento porque as coisas estão mudando e é aí que chega a IA”, explicou.
Igreja citou uma frase de Mark Twain: “a história não se repete, mas ela rima”. “É incrível o que está acontecendo com a IA, mas ainda é recente, estamos falando de 2022 para cá. Temos a mesma sensação de 1999, quando achávamos incrível usar a internet, estar em uma sala de chat, mas tudo era ainda muito precário. Até empresas grandes, como o McDonald’s, foram resistentes em registrar o domínio. Com a IA, o raciocínio é igual”, afirmou.
Para ilustrar a força da IA em relação à chegada da Internet, Igreja lembrou da frase de Vladimir Lênin: “Existem décadas em que nada acontece e existem semanas em que décadas acontecem. “Estamos no meio do caminho do que chamamos de curva de difusão de inovação, quando muita gente começa a usar a IA. Categorias como marketing, atendimento e vendas são os setores que estão usando IA com mais firmeza”, resumiu.
O palestrante ainda esclareceu que a forma como trabalhamos não mudou até agora. O que mudou é a distribuição do trabalho. “Podemos não realizar tarefas de ponto a ponto porque temos a IA, mas nós somos os computadores, trabalhamos processando informações e 40% das pessoas já usam a IA para o atendimento”.
Entre as características da IA apresentadas por ele, multimodalidade (planilhas para diferentes tipos de dados), workflow (fluxos de trabalho), action (a IA tomando atitudes), Igreja disse que no mês passado a evolução da IA chegou a um ponto tal que passou no teste de Turing – a partir do conceito criado por Alan Turing para determinar se uma máquina pode demonstrar inteligência humana. Ele ainda mencionou a Manus, a IA chinesa, que realizou inúmeros fluxos de trabalho ao mesmo tempo, para mostrar como o uso da IA pode simplificar processos de trabalho.
“Hoje você pode achar isso estranho, mas não é. Em janeiro deste ano, a geração Z se tornou a maior do mundo em quantidade de pessoas. A geração Z afirma que se sentem plenamente seguros em ser atendidos por IA e se você nasceu antes de 2005 algumas coisas podem soar estranhas. Nossa versão de software é diferente”, comentou.
Arthur Igreja finalizou sua palestra com uma afirmação importante diante do poder da IA. “O ser humano tem que continuar governando essa experiência. Human in the loop. Por isso, não basta conectar a IA ao seu negócio. Transfira apenas a correria para a IA no seu negócio e continue governando”, finalizou.